sábado, 22 de novembro de 2014

Como no Tratado de Tordesilhas



COMO NO TRATADO DE TORDESILHAS

Por José Gomes

A questão da má distribuição da água no território do Brasil e sua consequente escassez no Nordeste tem sido uma constante desde o nascimento desse país.
Até bem pouco tempo, um ano, dezoito meses, talvez, o “privilégio” de ser “flagelado” era exclusivo dos brasileiros nordestinos. Agora, essa “honra?” é compartilhada com os patrícios do Sudeste e, quiçá, do Sul.
Quem estudou a História do Brasil com atenção, seguramente se lembra da linha de Tordesilhas, que dividia as terras sul-americanas, mesmo ainda desconhecidas, entre Portugal (que ficaria com o leste – atual Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil), e a Espanha (que se apossaria da porção oeste).
Se examinarmos o mapa hidrográfico brasileiro, considerando-se a questão aquática, veremos que há uma partilha idêntica àquela do Tratado de Tordesilhas: temos no Oeste as regiões Norte e Centro-Oeste, riquíssimas do “líquido vitral”, e a banda leste, incluindo as regiões Nordeste, Sudeste e Sul, desfavorecidas pela distribuição desigual da água.
É o Brasil o país com maior potencial de água doce de todo o Planeta Terra. O Nordeste tem sofrido ao longo dos séculos, pela escassez ou falta total  da água em determinadas zonas. Um enorme paradoxo num país considerado continental e rico em recursos hídricos.
Na atualidade, o drama vivido pelos sertanejos passou a ser encenado também pelos habitantes do Sudeste e do Sul, onde represas ou barragens que abastecem imensas populações, estão em colapso total, pela falta de chuvas e, principalmente, de visão de futuro de gestores do passado, que não pensaram no aumento populacional me, consequentemente, da demanda pelo líquido ‘incolor’.
É gravíssimo o problema do esgotamento da água ao leste da “linha de Tordesilhas”. A água segue acabando numa velocidade sem precedentes, numa rapidez infreável, como que querendo deixar tórrida toda a faixa atlântica brasileira.
Quando essa questão era restrita ao Nordeste, idéias do governo federal foram aventadas na tentativa de minorar o problema. Inclusive, no Segundo Império, D. Pedro II, em visita à região, e presenciando o sofrimento dos sertanejos, emocionado com o que vira, prometeu vender a última pedra preciosa da sua coroa, se preciso fosse, para ajudar os nordestinos no combate ao flagelo das secas. Tal jóia imperial deve estar intacta em algum museu, talvez o Museu Imperial de Petrópolis.
Em tempo mais recente, começou a ser levada a cabo a transposição do Rio São Francisco, um ato que realiza um sonho que também foi do nosso segundo imperador.
As conseqüências de se transpor as águas do “rio da unidade nacional”, estão sendo vividas por aqueles que habitam o entorno dos canais e por aqueles que foram obrigados a mudarem-se dos seus locais primitivos. Como se justifica transpor um rio cuja nascente principal já está morta? O “Velho Chico”, tão senil e na UTI, vai perecendo com o volume de água que vai  minguando na sua veia.
Face a essa questão da mais elevada gravidade, pergunta-se: Por que não comprar de Israel a tecnologia do conduto nacional?
Seguindo o exemplo israelense e empregando a tecnologia de lá, poder-se-ia transpor as águas do Oeste da linha de Tordesilhas, ou seja, da Região Amazônica e do Centro-Oeste. Desse modo, construir-se-iam condutos da Região Norte para a Região Nordeste, a partir dos rios Amazonas, Madeira, Purus, Japurá, Tapajós, Xingu, Negro, Trombetas, Araguaia, Tocantins, etc., o que poderia deixar as barragens ou represas nordestinas sempre cheias, sem prejuízos para os rios dispersores, pois, além da água para o consumo humano, iriam tê-la para as atividades econômicas, também.
Igual procedimento poderia ser feito do Centro-Oeste, que é polo de irradiação das mais importantes vias fluviais do país. Rios como o Paraná, o Paraguai, o Paranaíba e outros, poderiam ser transpostos para abastecerem os estados do Sudeste e outras áreas do Sul, onde houvesse carência de água.
Obra como essa representaria um salto desenvolvimentista para o pais, pois, além da água para o consumo humano, iriam tê-la para as atividades econômicas, também.
É um disparate para um país  que tem o maior conjunto hidrográfico do mundo, e juntamente na sua banda Oriental, totalmente banhada pelo Oceano Atlântico, a falta de água potável seja o problema mais relevante.
Considerem-se, outrossim, os mananciais subterrâneos que há no Nordeste, onde se escavando a água brota, as estâncias hidrominerais do Sudeste, e o portentoso Aquífero Guarani, maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo, cabendo ao Brasil 2/3 da sua área total.
Há tanta água nesse país! Por que a sede das pessoas? Por que a rachadura do solo e a torridez da vegetação? Para onde vai nossa água? Se foi possível construir gasoduto da Bolívia para São Paulo, por que não fazer adutoras ou aquedutos para levar água onde não tem, como Israel o fez?
É de se acreditar que não há interesse político dos governos em todas as suas esferas, em “dar de beber a quem tem sede”. Certamente os conchavos patrocinados pela corrupção entravam iniciativas de se distribuir o líquido da vida de forma igualitária. Há interesses inescrupulosos de quem está nos poderes político e econômico. Há as disputas internacionais, interestaduais, intermunicipais. Na hora da escassez irmão não quer socorrer irmão.
A escassez indica o caminho do lucro a grandes grupos empresariais, principalmente da França, Inglaterra, Espanha e Estados Unidos, que controlam o abastecimento de água em vários países. Na liderança desse processo, e de olhos voltados para o Brasil, estão as gigantes multinacionais da água, tais como os grupos VIVENDI e o SUEZ LYONNAISE, da França.
E já existe um exemplo concreto de privatização no Brasil, com a venda da Manaus Saneamento, em junho de 2000, à francesa Lyonnaise dês Eaux que abocanhou a distribuição de parte da água da Amazônia.  Vejam nisso um exemplo de porque não trazem água para o Nordeste. Uns pouquíssimos compatriotas vendem nossa água, ficam abastados e a grande maioria fica entregue ao sofrimento. Covardes os governos, covarde o povo que os elege à escuridão da ignorância.
Percebe-se porque a água não chega para quem precisa.
É uma verdadeira TRAIÇÃO ao povo brasileiro, entregar nossas águas  para estrangeiros. Parece que querem  que fiquemos dessecados pela sede como muitos africanos ficam dessecados pela fome.

Para ilustrar o presente texto, eis as música Chega de Mágoa e Seca d`Água, do Grupo Nordeste Já.

Chega de Mágoa

Nordeste Já

(MILTON)
Nós não vamos nos dispersar
Juntos é tão bm saber
Que passado o tormento
Será nosso esse chão
(DJAVAN)
Água, dona da vida
Ouve essa prece tão comovida
(RITA LEE)
Chega
Brinca na fonte
Desce do monte
Vem como amiga
(CORO)
Te quero água de beber, um copo d?água
Marola mansa da maré
Mulher amada
Te quero orvalho toda manhã
(GAL)
Terra, olha essa terra
Raça valente, gente sofrida
(GONZAGUINHA)
Chama,
(ELBA)
Tem que ter feira,
(GONZAGUINHA)
Tem que ter festa,
(GONZAGUINHA E ELBA)
Vamos pra vida
(CHICO)
Te quero terra pra plantar,
(CHICO E FAFÁ)
Te quero verde
(CAETANO)
Te quero casa pra morar,
(CAETANO E SIMONE)
Te quero rede
(PAULA TOLLER E ROGER)
Depois da chuva o sol da manhã
(MARIA BETHÂNIA)
Chega de mágoa,
Chega de tanto penar
(CORO)
Canto, o nosso canto,
Joga no vento
Uma semente, gente
Olha essa gente
(ELISETE CARDOSO)
Te quero água de beber
Um copo d?água
Marola mansa da maré
Mulher amada
(GILBERTO GIL)
Te quero terra pra plantar
Te quero verde
Te quero casa pra morar
Te quero rede
(ELISETE CARDOSO)
Depois da chuva o sol da manhã
(CORO)
Canto e o nosso canto
Joga no tempo uma semente
(CORO)
Gente
(ROBERTO CARLOS)
Quero te ver crescer bonita
(CORO)
Olha essa gente
(ERASMO CARLOS)
Quero te ver crescer feliz
(CORO)
Olha essa gente
(ROBERTO E ERASMO)
Olha essa terra, olha essa gente
(CORO)
Olha essa gente
(ROBERTO CARLOS)
Gente pra ser feliz, feliz
(CORO COM TIM MAIA)
Te quero água de beber
Um copo d?água
Marola mansa da maré
Mulher amada
Te quero terra pra plantar
Te quero verde
Te quero casa pra morar
Te quero rede
Depois da chuva o sol da manhã
( FAGNER )
Chega de mágoa
Chega de tanto penar.

Disponível em: http://letras.mus.br/nordeste-ja/1286684/ Acessado em: 11/11/2014.

Seca d'Água

Nordeste Já

É triste para o Nordeste o que a natureza fez
Mandou cinco anos de seca e uma chuva em cada mês
E agora em 85 mandou tudo de uma vez
A sorte do nordestino é mesmo de fazer dó
Seca sem chuva é ruim
Mas seca d'água é pior
Quando chove brandamente depressa nasce um capim
Dá milho, arroz e feijão, mandioca e amendoim
Mas com em 85 até o sapo achou ruim
Maranhão e Piauí estão sofrendo por lá
Mas o maior sofrimento é nessas bandas de cá
Pernambuco, Rio Grande, Paraíba e Ceará
A sorte do nordestino é mesmo de fazer dó
Seca sem chuva é ruim
Mas seca d'água é pior
O Jaguaribe inundou a cidade de Iguatu
E Sobral foi alagada pelo Rio Acaraú
O mesmo estrago fizeram Salgado e Banabuiu
Ceará martirizado, eu tenho pena de ti
Limoeiro, Itaíçaba, Quixeré e Aracati
Faz pena ver o lamento dos flagelados dali
Seus doutores governantes da nossa grande nação
O flagelo das enchentes é de cortar coração
Muitas famílias vivendo sem lar, sem roupa, sem pão
A sorte do nordestino é mesmo de fazer dó
Seca sem chuva é ruim
Mas seca d'água é pior(3x)
Composição: Criação Coletiva Sobre Poema de Patativa do Assaré

Disponível em: < http://letras.mus.br/nordeste-ja/1287804/#radio> Acessado em: 11/11/2014.

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