Coming Back
to Pré-história ou Let’s Go to Pós-história?
Por José Gomes
Meio ambiente é um assunto perene, recorrente e que
nunca cai de moda. Fala-se em preservar vegetação, poupar água, evitar poluir o
ar, destinar corretamente o lixo, dentre outros aspectos que aludem a esse
tema.
Conferências sobre clima, conclaves sobre
desmatamentos, congressos sobre poluição... Muitas iniciativas ao redor do
Globo têm sido levadas a cabo na tentativa desesperada de conter os estragos
que os bípedes humanos fazem no seu cenário de vida. .
Viajando pela Estrada do Feijão ou pela Rodovia
Lomanto Junior, com destino a Feira de Santana, a Salvador e outros, tenho
constatado o processo de desertificação nos territórios serpenteados pelas
referidas “highways”, em especial nos municípios pertencentes ao Território de
Identidade da Bacia do Jacuípe, a partir da cidade onde resido – Várzea da
Roça. Nesse vasto terreno árido, quente de minguada flora – fauna não há mais,
o que outrora era a bela “mata branca”, verde e florida na primavera, hoje é extenso espaço que agoniza pela impiedosa desertificação promovida por
homens e mulheres portadores da “síndrome da falta de inteligência e
sabedoria”.
Ver-se ao longo da paisagem, de perto e ao longe, no
horizonte o colorido das sacola plásticas brancas, amarelas, azuis, verdes,
pretas... às vezes sobre o chão quente, noutras vezes penduradas nos galhos
ressequidos da agonizante caatinga, ou noutro caso migrando para não sei onde, pela ação do
vento, tudo isso formando uma “obra de arte” que em nada é abstrata, em nada é
surreal, não é concreta. Antropofágica, seria? Não sei. Só sei que é uma “arte”
ao contrário, uma arte desclassificada, infame, sem inteligência, sem criatividade,
espontânea pela irracionalidade.
É perceptível, ao longo das beiradas das ditas
rodovias, notadamente nos povoados e nas pequenas cidades localizadas em suas
respectivas extensões, o desprezo que as pessoas têm para com o ambiente onde
vivem e seu entorno. Toda sorte de lixo é lançada às margens da BR ou da BA:
sacolas plásticas (as mais comuns), papelões, pneus velhos, garrafas pet, latas
de refrigerantes e similares, e tantos outros poluentes que, revolvidos pelo
vento, “migram”, espraiando-se para mais além da paisagem próxima, até se
perderem de vista no horizonte. Desse modo, a caatinga que deveria está
verdejante e florida, é transformada num novo, desclassificado e estéril bioma,
que, no mínimo, em nada agrada aos olhos dos sensatos e ecologicamente corretos
cidadãos.
Nos aglomerados urbanos a situação não é diversa. O
diferencial é a ação dos garis que minimiza
o problema.
É calamitoso que tantas pessoas sejam insensíveis e
rudes e usem suas mãos para lançar lixo
em qualquer lugar, irresponsavelmente, atuando de forma tal qual um cachorro
que urina num poste, ou de qualquer outro irracional que despeja suas
fezes onde está quando sente vontade de
fazê-lo.
Pessoas assim, de pouco discernimento cerebral,
esquecem que suas vidas estão ligadas à natureza e desta dependem
infinitamente. É o mesmo que cuspir no
assoalho da própria habitação, não dá importância para a higiene do seu abrigo,
apenas viver “vegetando”.
Com tamanho descaso à natureza, acredita-se que a
espécie humana perdeu sua inteligência e condição de raciocínio quando deixou
de ser quadrúpede para ser bípede.
Ao passar por essa “metamorfose ambulante” é provável
que os humanos tenham encarnado
instintos caninos, felinos, bubalinos, equinos, suínos, asininos... Dá
para crer que, com passadas largas estamos retornando (coming back) à pré-história
ou, para ser mais modernos, e considerando-se que naquele tempo a população
mundial era minúscula e a natureza era preservada, “vamos para a pós-história”.
Como gosto e costumo ilustrar minhas produções com
alguma música, é cabível aqui a música Matança. Ei-la:
Matança
Xangai
Cipó Caboclo tá subindo na virolaChegou a hora do Pinheiro balançar
Sentir o cheiro do mato, da Imburana
Descansar, morrer de sono na sombra da Barriguda
De nada vale tanto esforço do meu canto
Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar
Tal Mata Atlântica e a próxima Amazônica
Arvoredos seculares impossível replantar
Que triste sina teve o Cedro, nosso primo
Desde de menino que eu nem gosto de falar
Depois de tanto sofrimento seu destino
Virou tamborete, mesa, cadeira, balcão de bar
Quem por acaso ouviu falar da Sucupira
Parece até mentira que o Jacarandá
Antes de virar poltrona, porta, armário
Mora no dicionário, vida eterna, milenar
Quem hoje é vivo corre perigo
E os inimigos do verde dá sombra ao ar
Que se respira e a clorofila
Das matas virgens destruídas vão lembrar
Que quando chegar a hora
É certo que não demora
Não chame Nossa Senhora
Só quem pode nos salvar é
Caviúna, Cerejeira, Baraúna
Imbuia, Pau-d'arco, Solva
Juazeiro e Jatobá
Gonçalo-Alves, Paraíba, Itaúba
Louro, Ipê, Paracaúba
Peroba, Massaranduba
Carvalho, Mogno, Canela, Imbuzeiro
Catuaba, Janaúba, Aroeira, Araribá
Pau-Ferro, Angico, Amargoso, Gameleira
Andiroba, Copaíba, Pau-Brasil, Jequitibá
Disponível
em:<http://letras.mus.br/xangai/385821/>
Acessado em: 03/11/2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário