Cities, Towns, Pueblos, etc. e Tal
Por: José Gomes da Silva
Um dia, ao receber do Presidente americano Francis Pierce uma proposta de compra das
terras do seu povo – A tribo Suaquamesh, o cacique Seattle enviou-lhe uma memorável carta
que, dentre outros assuntos, fazia alusão às cidades, de modo geral. Eis o
pensamento do chefe indígena:
“
A vista de suas cidades é um tormento para os olhos do homem vermelho. Mas talvez isso seja assim por ser o homem vermelho
um selvagem que nada compreende. Não se pode encontrar paz nas cidades do
homem branco. Nem um lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem da
primavera ou o tinir das asas de insetos. Talvez por ser um selvagem que nada
entende, o barulho das cidades é para mim uma afronta contra os ouvidos.
E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo
noturno ou a conversa dos sapos no brejo, à noite? Um índio prefere o
suave sussurro do vento sobre o espelho da água e o próprio cheiro do vento,
purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho”
18/11/2014.
As cidades surgiram há cerca de cinco mil anos,
motivadas pela produção agrícola excedente, que era trocada entre as aldeias.
Com o constante progresso tecnológico, o aumento da produtividade no campo e,
em conseqüência desses fatores, o aumento populacional, as pequenas
aglomerações cresceram, tornando-se cidades, ao mesmo tempo em que a atividades
humanas, tanto laborais quanto sociais, também se expandiam.
Essa é a gênese das cidades cuja evolução nunca mais
parou.
Hoje há cidades pequenas, médias e grandes,
metrópoles e megalópoles, naturais ou planejadas. Cada uma diferente de outra.
Entretanto, todas mantendo uma base de características comuns.
Hoje em dia as cidades abrigam grandes contingentes
populacionais, ao passo que a zona rural é esvaziada por conta da violência
humana ou de fatores climáticos ou econômicos,
Há núcleos citadinos que fascinam pela arquitetura
que têm, pelo modernismo imprimido na sua fisionomia, por inventos que vieram
facilitar sua dinâmica, como, por exemplo, o metrô, a escada rolante, os
elevadores panorâmicos, a porta que se abre sem que se precise tocá-la, etc.
Há outros que parece terem se perdido no tempo, não
havendo neles a infraestutura, o progresso e a evolução, apenas um amontoado de
gente, em estado animalesco, sob os descuidados de governantes incompetentes.
Preferir viver na cidade ou no campo é uma opção individual ou por força dos
fatores supracitados. Cada sujeito sabe que cidade ou campo tem suas vantagens
e atrativos, como também têm suas desvantagens e estas, nas urbes, parecer ser
maiores. Sua fixação num ou noutro ambiente se dá por livre opção, pela busca de meios para
sobreviver, ou pela fuga de adversidades nos espaços de origem.
Sabe-se que no pressente momento (século XXI),
habitar as cidades não é tão benéfico às pessoas de boa índole, pelos inúmeros
problemas cotidianos. Talvez o chefe Seattle, se vivo fosse, estaria
horrorizado com a realidade das urbes, das maiores aos minúsculos povoados. A
começar pela falta de paz nas cidades do “homem branco”. E agora, mais do que
antes, esse estado de tranqüilidade tem sido escasso e substituído pela
violência em todas as suas formas e nuances.
Nas cidades do homem branco, mas também de negros, de
índios, de orientais, etc., o excesso de luz incomoda aos seus próprios olhos; a poluição sonora,
detonada em todos os decibéis “insulta os ouvidos” dos que precisam preservar
sua audição.; há lixo por toda parte; esgoto a céu aberto; filas para quase
tudo; gente incivilizada no meio dos racionais; trânsito insano, dominado principalmente por
motocicletas; não há respeito nas cidades dos homens de todos as cores.
São residências misturadas com clubes recreativos,
oficinas de autos, estabelecimentos comerciais, escolas... num desordenamento
espacial que traz conseqüências para a saúde do povo; há festas populares que nada acrescentam à cidade, servem apenas
para patrocinar o consumo de bebidas
alcoólicas, de drogas ilegais e para a prática do sexo em público.
A opinião do cacique Seattle foi formada há
aproximadamente 200 anos, quando as cidades ainda eram pequenas e provincianas
e não tinham tanto progresso e requinte tecnológico que as cidades do início do
século XX para cá. Certamente se ele fosse contemporâneo do homem do século
XXI, estaria estupefato e horrorizado pelo ronco dos aviões sobre as cidades,
pelos esgotos fétidos a correrem na
superfície do solo citadino, com ruas, praças e avenidas esburacadas, pelo zoar
interminável do trânsito, pelas luzes multicores a afrontarem os olhos dos
habitantes; pela insegurança, principalmente em locais de maior freqüência de
público, como os bancos.Agora as cidades não são exclusivas do homem branco.
Elas cresceram e se multiplicaram por todo o Planeta Terra, e são povoadas
pelas cores de todas as etnias, porém, mantendo características peculiares a todas, que justificam serem
esses aglomerados, muitas vezes tão bem elaborados, um lugar cruel e insalubre para se viver.
À sua época, o cacique Seattle já estava com razão ao
opinar sobre as cidades.
Cidades e Lendas
Zé Ramalho
Entre torres e favelas vejo a lua flutuarVejo o mar bater nas pedras
Da cidade onde chorei por você
Foi-se a noite sertaneja que sonhei no estrangeiro
Estilhaços de recordação onde eu nunca voltarei
A cidade é uma serpente se não falha o meu repente eu vou só
Toda cidade é uma lenda, lendas de ferro e cristal
Ruas de luz e de penas, cenas de fogo e jornal
Ee... oo...
Vai batendo a velha noite no subúrbio da tristeza
E a madrugada sai num trem azul no céu
Abrigando a luz da ilusão
São olhares sem janela derramados na sarjeta
Passarada, negra solidão, traficando a última visão
As cidades são espelhos, tantos olhos, tantos olhos tão sós
Toda cidade é uma lenda, lendas de ferro e cristal
Ruas de luz e de penas, cenas de fogo e jornal
Nas esquinas do deserto, as meninas são sereias
Nas migalhas da televisão eu procuro por você
São atlântidas concretas baseadas na pobreza
Babilônias da desconstrução sob a lama dos meus pés
As cidades são cometas, vão embora porque somos tão sós
Disponível
em: http://letras.mus.br/ze-ramalho/49365/
Acessado em: 03/01/2015.
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