sábado, 3 de janeiro de 2015

Cities, Towns, Pueblos... etc. e Tal



Cities, Towns, Pueblos, etc. e Tal
Por: José Gomes da Silva


Um dia, ao receber do Presidente americano  Francis Pierce uma proposta de compra das terras do seu povo – A tribo Suaquamesh, o cacique       Seattle enviou-lhe uma memorável carta que, dentre outros assuntos, fazia alusão às cidades, de modo geral. Eis o pensamento do chefe indígena:

“ A vista de suas cidades é um tormento para os olhos do homem vermelho. Mas talvez isso seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende. Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem um lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem da primavera ou o tinir das asas de insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é para mim uma afronta contra os ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo, à noite?  Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho da água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho”
18/11/2014.

As cidades surgiram há cerca de cinco mil anos, motivadas pela produção agrícola excedente, que era trocada entre as aldeias. Com o constante progresso tecnológico, o aumento da produtividade no campo e, em conseqüência desses fatores, o aumento populacional, as pequenas aglomerações cresceram, tornando-se cidades, ao mesmo tempo em que a atividades humanas, tanto laborais quanto sociais, também se expandiam.
Essa é a gênese das cidades cuja evolução nunca mais parou.
Hoje há cidades pequenas, médias e grandes, metrópoles e megalópoles, naturais ou planejadas. Cada uma diferente de outra. Entretanto, todas mantendo uma base de características comuns.
Hoje em dia as cidades abrigam grandes contingentes populacionais, ao passo que a zona rural é esvaziada por conta da violência humana ou de fatores climáticos ou econômicos,
Há núcleos citadinos que fascinam pela arquitetura que têm, pelo modernismo imprimido na sua fisionomia, por inventos que vieram facilitar sua dinâmica, como, por exemplo, o metrô, a escada rolante, os elevadores panorâmicos, a porta que se abre sem que se precise tocá-la, etc.
Há outros que parece terem se perdido no tempo, não havendo neles a infraestutura, o progresso e a evolução, apenas um amontoado de gente, em estado animalesco, sob os descuidados de governantes incompetentes.
Preferir viver na cidade ou no campo  é uma opção individual ou por força dos fatores supracitados. Cada sujeito sabe que cidade ou campo tem suas vantagens e atrativos, como também têm suas desvantagens e estas, nas urbes, parecer ser maiores. Sua fixação num ou noutro ambiente se dá  por livre opção, pela busca de meios para sobreviver, ou pela fuga de adversidades nos espaços de origem.
Sabe-se que no pressente momento (século XXI), habitar as cidades não é tão benéfico às pessoas de boa índole, pelos inúmeros problemas cotidianos. Talvez o chefe Seattle, se vivo fosse, estaria horrorizado com a realidade das urbes, das maiores aos minúsculos povoados. A começar pela falta de paz nas cidades do “homem branco”. E agora, mais do que antes, esse estado de tranqüilidade tem sido escasso e substituído pela violência em todas as suas formas e nuances.
Nas cidades do homem branco, mas também de negros, de índios, de orientais, etc., o excesso de luz incomoda aos  seus próprios olhos; a poluição sonora, detonada em todos os decibéis “insulta os ouvidos” dos que precisam preservar sua audição.; há lixo por toda parte; esgoto a céu aberto; filas para quase tudo; gente incivilizada no meio dos racionais; trânsito  insano, dominado principalmente por motocicletas; não há respeito nas cidades dos homens de todos as cores.
São residências misturadas com clubes recreativos, oficinas de autos, estabelecimentos comerciais, escolas... num desordenamento espacial que traz conseqüências para a saúde do povo; há festas populares que  nada acrescentam à cidade, servem apenas para  patrocinar o consumo de bebidas alcoólicas, de drogas ilegais e para a prática do sexo em público.
A opinião do cacique Seattle foi formada há aproximadamente 200 anos, quando as cidades ainda eram pequenas e provincianas e não tinham tanto progresso e requinte tecnológico que as cidades do início do século XX para cá. Certamente se ele fosse contemporâneo do homem do século XXI, estaria estupefato e horrorizado pelo ronco dos aviões sobre as cidades, pelos esgotos fétidos a correrem  na superfície do solo citadino, com ruas, praças e avenidas esburacadas, pelo zoar interminável do trânsito, pelas luzes multicores a afrontarem os olhos dos habitantes; pela insegurança, principalmente em locais de maior freqüência de público, como os bancos.Agora as cidades não são exclusivas do homem branco. Elas cresceram e se multiplicaram por todo o Planeta Terra, e são povoadas pelas cores de todas as etnias, porém, mantendo características  peculiares a todas, que justificam serem esses aglomerados, muitas vezes tão bem elaborados, um lugar  cruel e insalubre para se viver.
À sua época, o cacique Seattle já estava com razão ao opinar sobre as cidades.


Cidades e Lendas

Zé Ramalho

Entre torres e favelas vejo a lua flutuar
Vejo o mar bater nas pedras
Da cidade onde chorei por você
Foi-se a noite sertaneja que sonhei no estrangeiro
Estilhaços de recordação onde eu nunca voltarei
A cidade é uma serpente se não falha o meu repente eu vou só
Toda cidade é uma lenda, lendas de ferro e cristal
Ruas de luz e de penas, cenas de fogo e jornal
Ee... oo...
Vai batendo a velha noite no subúrbio da tristeza
E a madrugada sai num trem azul no céu
Abrigando a luz da ilusão
São olhares sem janela derramados na sarjeta
Passarada, negra solidão, traficando a última visão
As cidades são espelhos, tantos olhos, tantos olhos tão sós
Toda cidade é uma lenda, lendas de ferro e cristal
Ruas de luz e de penas, cenas de fogo e jornal
Nas esquinas do deserto, as meninas são sereias
Nas migalhas da televisão eu procuro por você
São atlântidas concretas baseadas na pobreza
Babilônias da desconstrução sob a lama dos meus pés
As cidades são cometas, vão embora porque somos tão sós


Disponível em: http://letras.mus.br/ze-ramalho/49365/ Acessado em: 03/01/2015.

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