Um dos aspectos mais espetaculares da Língua Portuguesa é a condição de, a partir de um texto original produzirem-se outros textos, usando outro vocabulário, mas preservando certas características da matriz. Esse fenômeno lingüístico é conhecido como INTERTEXTUALIDADE.
Um exemplo emblemático de intertextualidade é aquele que tem sua gênese no famoso poema Canção do Exílio, do poeta maranhense Antonio Gonçalves Dias. Eis o texto-matriz produzido no primeiro momento da poesia romântica brasileira, cuja releitura foi feita por outros autores e noutras gerações da literatura verde e amarela.
Canção do Exílio Gonçalves Dias Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite — Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. | Outra Canção do Exílio Eduardo Alves da Costa Minha terra tem Palmeiras, Corinthians e outros times de copas exuberantes que ocultam muitos crimes. As aves que aqui revoam são corvos do nunca mais, a povoar nossa noite com duros olhos de açoite que os anos esquecem jamais. Em cismar sozinho, ao relento, sob um céu poluído, sem estrelas, nenhum prazer tenho eu cá; porque me lembro do tempo em que livre na campina pulsava meu coração, voava, como livre sabiá; ciscando nas capoeiras, cantando nos matagais, onde hoje a morte tem mais flores, nossa vida mais terrores, noturnos, de mil suores fatais. Minha terra tem primores, requintes de boçalidade, que fazem da mocidade um delírio amordaçado: acrobacia impossível de saltimbanco esquizóide, equilibrado no risível sonho de grandeza que se esgarça e rompe, roído pelo matreiro cupim da safadeza. Minha terra tem encantos de recantos naturais, praias de areias monazíticas, subsolos minerais que se vão e não voltam mais. Disponível em: http://www.astormentas.com/din/poema.asp?key=12765&titulo=Outra+Can%E7%E3o+do+Ex%EDlio Acessado em: 22/6/2012 |
NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO Carlos Drummond de Andrade Um sabiá na palmeira, longe. Estas aves cantam um outro canto. O céu cintila sobre flores úmidas. Vozes na mata, e o maior amor. Só, na noite, seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe. Onde é tudo belo e fantástico, só, na noite, seria feliz. (Um sabiá, na palmeira, longe.) Ainda um grito de vida e voltar para onde tudo é belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe. Disponível em: http://docecomoachuva.blogspot.com.br/2010/07/nova-cancao-do-exilio-carlos-drummond.html Acessado em: 22/6/2012 | Canto de Regresso à Pátria Oswald de Andrade Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo http://www.releituras.com/oandrade_canto.asp 21.07.200 |
E aí, viu como a intertextualidade promove um belo diálogo entre os textos?
E agora, que tal você criar uma nova Canção do Exílio, adaptada ao nosso tempo? Aceitas o desafio?
Se o fizer, compartilhe conosco.
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